Se pensa que o dia das bruxas em Portugal é uma invenção
recente, fruto apenas da influência da cultura anglo-saxónica, engana-se. E se
pensa que a abóbora fantasmagórica, escavada e iluminada, é apenas a herança de Jack
O'Lantern, falta-lhe a outra parte da história.
Muito antes de os emigrantes irlandeses terem levado a
tradição do Halloween para os EUA, no sec. XIX, e de na Europa a termos
recuperado por via do consumismo, no sec. XX, já a abóbora fazia parte dos
rituais ancestrais do dia 31 de Outubro em Portugal.
Chamava-se coca (ou coco) a um bicho-papão, um ser sem forma definida, criado para assustar crianças. Para o representar usava-se uma abóbora escavada, com buracos a fazer
de olhos e boca, e punha-se uma vela dentro.
Nos peditórios do “pão por Deus” (que muitas crianças
portuguesas hoje mantêm, apesar de terem começado a ameaçar “doce ou travessura”
em vez de pedirem “pão por Deus”!) a coca em forma de abóbora fazia invariavelmente
parte do ritual. Na noite de 31 de Outubro havia cortejos de crianças, em
alguns locais apenas rapazes, que levavam estas abóboras esculpidas espetadas
em paus. Era assim no mundo rural, mas também em muitas cidades portuguesas.
A tradição vem da cultura celta. Festejava-se a 31 de
Outubro o fim de um ano de colheitas e o início de um novo ciclo. Era a noite
mais perigosa do ano, pois acreditava-se que as almas das pessoas mortas podiam
voltar a este mundo para acertar contas antigas. Para protegerem as suas
comunidades, os guerreiros usavam as caveiras dos seus inimigos mortos em
batalha, iluminando-as por dentro e colocando-as em sítios ermos ao redor das
aldeias. Quando as caveiras se tornaram escassas, as abóboras começaram a
cumprir a mesma missão.
O Dia dos Fiéis Defuntos, que a tradição católica juntou à
tradição pagã, serviu para manter a noite de 31 de Outubro associada às almas e
assombrações do outro mundo.
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