segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A estreia do chícharo

Não são cogumelos, nem qualquer parte esquisita do porco. Trata-se de uma leguminosa que cresce facilmente em zonas calcárias e com pouca água, em terras onde por vezes mais nada vinga. 
Crê-se que o chícharo é originário do Norte de África e que foi trazido para a Península Ibérica pelos romanos. Em Portugal, é nas Serras do Sicó e de Alvaiázere que mais se cultiva e consome. 
Na segunda metade do século XX quase desapareceu. Agora está a ser recuperado e promovido, nomeadamente em Alvaiázere, auto-intitulada Capital do Chícharo e onde, desde 2002, se realiza um festival gastronómico do mesmo. O desafio é "Venha provar o património!" 


Dulce Freire, historiadora e coordenadora do projecto "Agricultura em Portugal: alimentação, desenvolvimento e sustentabilidade (1870-2010)" fala-nos de História, claro: "Os novos dados estatísticos que estamos a recolher mostram que no século XIX e início do século XX o chícharo era produzido e consumido em todo o país. Mas foi perdendo popularidade ao longo do século XX. Talvez porque era difícil de descascar e também porque ganhava gorgulho com muita facilidade... As variedades atuais dão uma semente maior e são mais fáceis de descascar. É muito energético e os trabalhadores comiam sopas de chícharos antes do nascer do sol, quando iam trabalhar para os campos."

Mas Dulce Freire também fala da sua história pessoal, já que tem raízes familiares em Alvaiázere, onde nunca deixou de se comer chícharo: "No quintal da nossa casa, a minha avó sempre o cultivou. Para mim, é um alimento habitual desde sempre. Comia-se em migas de couves com broa de milho e em sopas (uma delas com bacalhau e tomate e umas poucas de massas). Agora, todos os anos, em Outubro, os Freire fazem o almoço do chícharo!"

E ainda dá uma dica útil: "Para evitar o aparecimento de gorgulho congelam-se os chícharos durante umas semanas, imediatamente depois de secos."

O chícharo é rico em proteínas, tal como o grão de bico, e muito energético, mas tem outras propriedades que fazem dele uma opção cada vez mais presente na dieta de vegetarianos e macrobióticos: é rico em flavonóides e enzimas. Antigamente, a água de cozer os chícharos era usada na dieta de doentes tuberculosos e de mães a amamentar. Pode ser especialmente terapêutico em casos de problemas digestivos, musculares, reumatismo, anemia e diabetes. Além disso, tem propriedades diuréticas e afrodisíacas.

Provámos o património com bacalhau e broa e ficámos fãs. Por isso, trouxemos um carregamento a pensar em si. Afinal, quem pede salsa também pode pedir chícharos... Amanhã daremos a receita.

Extra cabaz: 
0,5 kg de chícharos  3€ 
0,5 kg de chícharas  3,50€ (variedade maior)

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